Angélica (1964 - 1968): A concepção do filme

Angélica, a Marquesa dos Anjos (1964) - Maravilhosa Angélica (1965) - Angélica e o rei (1966) - Angélica indomável (1967) - Angélica e o sultão (1968)


O habilidoso e talentoso Bernard Borderie dirigiu os filmes de Angélica já como um diretor experiente, e havia trabalhado com um tema similar no filme Os três mosqueteiros (1961) e em Os cavaleiros de Pardaillan (1962). Os filmes de Borderie são os melhores do gênero dos anos 1960. No entanto, a popularidade mundial desses filmes também contribuiu, em grande medida, para depreciar o trabalho de Anne Golon.

O contrato para o primeiro dos filmes foi assinado com o produtor Francis Cosne no final do ano de 1962. Dois anos depois, Bernard Borderie filmou Angélica, a Marquesa dos Anjos, mas apenas vagamente inspirado na primeira parte de um dos mais bem-sucedidos romances franceses. Para o papel principal esperava-se o nome de uma das maiores estrelas da época: Catherine Deneuve, Jane Fonda ou Brigitte Bardot. Esta última era, de fato, uma entusiasta leitora da série Angélica. Durante a definição do elenco lendário, porém, Michèle Mercier teve uma verdadeira explosão de raiva, então decidiu-se que uma estrela muito menor do que as outras ganhasse o papel.

Descobriu-se que Michèle Mercier ganhara o papel excepcionalmente. Talvez porque o papel de Angélica foi adaptado para atender a ela e correspondia às suas experiências anteriores em filmes de mulheres sensuais (Tirez sue le pianist, 1960; Tre volt della paura, 1963; La Pupa, 1963; Le Tonnerre de Dieu, 1965; La Seconde verité, 1966; Le Plus vieux métier du monde, 1967). Além disso, Michèle Mercier nunca foi loura. Todos os seus personagens foram marcados por sua arrogância inata e tendência para a autopromoção, e por isso ela elevou seu valor. Graças a isso, Michèle, de vinte anos, estava recebendo os papéis de femme fatale e de viúvas, o que, de outra forma, teria sido determinado para as senhoras mais velhas. A atriz, então, interpretava basicamente sozinha, e a figura de Angélica tornou-se muito parecida com ela. Por que, então, é válido que Michèle grite que ela não é Angélica e que a autora do romance diga que a Angélica de Mercier não é "real"? Quer gostemos ou não, desde o momento em assistimos ao filme de Borderie, o rosto de Michèle Mercier se torna uma espécie de rosto de Angélica para nós. Talvez, apenas quem nunca viu nenhum filme de Angélica não seja afetado por essa imagem intrusiva, a de uma condessa um pouco ruiva do século XVII, usando delineador preto, como era usado nos anos 1960.
O roteiro era muito diferente do romance original e, no início, visava, superficialmente, repetir o esquema dos filmes comercialmente bem-sucedidos (não apenas) dos anos 1960, contendo a dose necessária de tensão, número de cenas de ação, violência e erotismo. No entanto, o filme finalizado ainda era muito forte e, de certa forma, incomum, graças ao romance escolhido. Também foi muito útil a música de Michel Magne e os atraentes exteriores que, no entanto, estavam completamente fora da realidade.

Sob um olhar comparativo, a obra literária e os filmes subsequentes têm em comum apenas os nomes (não personalidades) dos personagens principais e a trama em primeiro plano. A Angélica de Mercier é infinitamente distante da heroína do livro, que tem uma essência espiritual, uma natureza amorosa de mulher livre e que experimenta sentimentos profundos. Podemos dizer que, no filme, a personalidade retratada da heroína transformou-se em uma coquete superficial e lasciva de baixo nível, que só quer brincar com os homens, mas nada realmente a atinge. Afinal, a Angélica dos filmes tornou-se mesmo uma assassina em Angélica e o rei (Angélique et le Roy, Bernard Borderie, 1966). No entanto, esse conceito de Angélica foi uma variação do símbolo sexual inspirado pelo fenômeno Brigitte Bardot e estava completamente alinhado com os anos 1960, tão revolucionários e socioculturais. Portanto, o filme também continua sendo uma lenda desse tipo, e para sua apreciação, é necessário não classificar esse trabalho como um filme histórico, mas divertir-se com uma metáfora do modelo de "nova mulher" e de um grande simbolismo.

Esse não é um romance histórico típico, mas uma das manifestações culturais dos anos 1960, quando a heroína sem sucesso, mas constantemente feminina, é a encarnação de uma nova época, é a encarnação de uma mulher cujas habilidades se misturam com ingenuidade, falsidade, perversidade, crueldade e o egoísmo de uma criança. Os cineastas também se concentraram em uma série de cenas sugestivamente eróticas, precisamente porque são apenas sugeridas e requerem a imaginação do espectador. Quem poderia imaginar que, antes de 1964, quando apareceu pela primeira vez o conceito de Angélica nos cinemas, que alguém usaria o nome Angélique/Angélica em um salão de beleza, uma cama ou uma coleção de roupas íntimas? Os nomes Angélique, também Angélica ou Angeline, foram muito pouco usados, talvez ainda em ambientes religiosos, como os conventos. Porém, a heroína do filme, Angélica, tornou-se cult. O filme e o romance histórico permanecem como fenômenos bem-sucedidos de forma semelhante, mas ao mesmo tempo pertencem a mundos muito diferentes, como tantas vezes ocorre com adaptações.